sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Da minha ignorância


"Sobre a moeda

Um dia, numa pequena vila Portuguesa, onde os tempos são duros e toda a gente está endividada e deprimida, onde todos vivem já a crédito dos vizinhos compreensivos, chega um turista alemão rico. Vai ao único Hotel da pequena vila e pergunta o preço do quarto ao dono do Hotel. Ele responde-lhe que são 100 euros por noite. O turista põe sobre o balcão uma nota de 100 euros.

O proprietário dá-lhe um molho de chaves, dizendo-lhe que nenhum quarto está ocupado e que ele poderá escolher o que mais lhe agradar. Mal o turista começa a subir as escadas o hoteleiro pega na nota de 100 euros, sai a correr em direcção ao talho vizinho e paga-lhe os 100 euros que lhe deve.

O talhante, que deve igual quantia a um criador de porcos, vai imediatamente ter com ele e solve a sua dívida. O criador de porcos corre ao "pub" e paga a sua conta de bar. O "barman" pega na nota e imediatamente a entrega à prostituta que está a seu lado e que lhe fornecia os seus serviços, a crédito, há alguns dias.

A senhora corre ao Hotel, que ela usa para fins profissionais e entrega ao hoteleiro os 100 euros para pagar a sua conta. Pouco tempo depois o turista desce as escadas, diz ao hoteleiro que não encontrou nenhum quarto que lhe servisse, recebe a sua nota de 100 euros e vai-se embora. Interessantemente, ninguém produziu absolutamente nada, ninguém ganhou nada mais do que o que tinha mas, agora, já ninguém está endividado!

É uma história muito simplista mas que mostra bem que a moeda é uma mera intermediária das trocas. É a sombra da Economia, não é a economia produtiva em si. Aquela história mostra também que esta crise, que está a mergulhar a Europa e Portugal na depressão, não é mais que uma crise contabilística.

A moeda que corre, hoje, em todos os países, em si, não tem valor. É apenas confiança nas Instituições e nos Países que a emitem. Se essa confiança se perdesse, poderíamos retroceder a uma situação de troca directa.

É claro que não chegaremos aí. Mas, se o Euro desaparecesse, a Europa perderia soberania e estaria sujeita, sem nada poder fazer, às consequências das políticas monetárias ditadas pelos Países que imprimem as outras moedas de referência internacional.

Falta coragem política para resolver esta situação através de uma acção determinada. Estou convencido que esta crise se vai resolver por 'write-offs' generalizados, que criarão uma situação inteiramente nova, enorme perplexidade, mas provavelmente será menos contundente que aquilo que se poderia esperar quando se salta para soluções anteriormente não testadas, pelo menos com a amplitude que agora é exigida.

Com elevada probabilidade, no fim dos 'write-offs' tudo estará, de novo, equilibrado. Como na simplista história do Hotel acima referido. Com uma diferença: daí para a frente as entidades que emprestem fa-lo-ão com rigor: serão muito mais exigentes na análise dos projectos para que emprestam dinheiro, verificando bem o potencial das propostas e emprestando apenas depois. E deixarão de ter como único objectivo fazer crescer o crédito concedido a todo o custo, mesmo quando a prudência razoável o desaconselharia. Foi assim no passado mais distante. Será assim no futuro. O paradigma mudou. A ideologia do crescimento contínuo já não é aplicável." 


António Neto da Silva, Diário Económico


Li o artigo e achei engraçada a história dos 100 euros voadores.  Mas no fim fiquei na mesma porque o autor parte do principio de que toda a gente é tão inteligente como ele. Ora como sou burrinha não sei o que são "write-offs". Há por aí alguma alma caridosa que desfaça esta minha ignorância? Fico muito agradecida.

6 comentários:

  1. Já somos dois. Mas descanse se não encontrar resposta.
    O economista estava só a contar uma anedota.
    (Pelo sim, pelo não sempre quero conhecer esse tal turista alemão...ao fim ao cabo era o único que tinha dinheiro)

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  2. Então Rogério, faz-me uma desfeita dessas, eu que estava a contar consigo... não me quer é dizer isso é que é....

    :))))

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  3. Minha amiga;
    Esse palavrão que os jornalistas gostam de utilizar significa "dar baixa nos livros" contabilísticos quando uma dívida se mostra incobrável. É o que os bancos têm de fazer a 50% da dívida grega que têm nas suas carteiras de activos, já que a Alemanha os obrigou a "perdoar" metade da dívida.
    Beijinhos

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  4. Obrigada amigo Lino, não fazia a mínima ideia....

    Beijinho

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  5. Também desconheço o palavrão, Ariel, mas conhecia uma história semelhante, com a diferença de que a nota a circular era...falsa!
    Uma pequena nuance, mas com algum significado...
    Bom fds

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  6. Já não me sinto tão sozinha na minha ignorância, Carlos.
    Bom fds para si também

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