sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Recordando Chaplin



E com o belo discurso de Charlie Chaplin em "O Grande Ditador" me despeço de 2010.

Desejo que 2011 nos traga a todos a paz, o pão, a saúde e a educação de que tanto andamos precisados.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Tomatada

"os contribuintes não podem ficar com a dúvida que foi lançada sobre a gestão rigorosa e competente que a Caixa está a fazer no BPN".
....
 "o Governo não permitirá em circunstância alguma que se procure branquear a anterior gestão criminosa do BPN, assim considerada pelo Ministério Público, ainda por cima transferindo as responsabilidades para aqueles que estão a muito custo a tentar resolver um problema que não criaram"


Ah bom, estava a ver que se ficavam!

O homem que parou o deserto


A história de Yacouba Sawadogo.

Ler mais aqui

Solilóquios (15)

Atrás de mim virá quem de mim  bom fará?
Temo que o ano 2010 venha a justificar o aforismo popular...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A justiça segundo Saramago

Em Portugal, na aldeia medieval de Monsaraz, há um fresco alegórico dos finais do século XV que representa o Bom Juiz e o Mau Juiz, o primeiro com uma expressão grave e digna no rosto e segurando na mão a recta vara da justiça, o segundo com duas caras e a vara da justiça quebrada. Por não se sabe que razões, estas pinturas estiveram escondidas por um tabique de tijolos durante séculos e só em 1958 puderam ver a luz do dia e ser apreciadas pelos amantes da arte e da justiça. Da justiça, digo bem, porque a lição cívica que essas antigas figuras nos transmitem é clara e ilustrativa. Há juízes bons e justos a quem se agradece que existam, há outros que, proclamando-se a si mesmos justos, de bons pouco têm, e, finalmente, não são só injustos como, por outras palavras, à luz dos mais simples critérios éticos, não são boa gente. Nunca houve uma idade de ouro para a justiça.

José Saramago aqui

Lembrei-me disto  a propósito desta decisão.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A rebaldaria


Estanislau Costa continuou a receber durante quase dois anos o vencimento da PT (23 mil euros) quando já era administrador dos CTT (15 mil euros) e que se terá demitido antes de se tornar pública a auditoria da Inspecção-geral das Finanças.
Entretanto...  já anunciou não estar disponível para continuar à frente da empresa, "por razões que são, exclusivamente, do foro pessoal e familiar".

Pois tá claro e nós, moita!

ler o resto da rebaldaria  aqui.

E assim vai Portugal...

 

... uns vão bem e outros mal. Não sei se chore se ria...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Barriguinhas-de-freira



... doces difíceis, retorcidos, com receitas mentirosas e segredos impartilhados, aperfeiçoados com vaidade e teimosia, competindo com elegante violência entre si. Doutra forma, era impossível serem tão deliciosos.
As Raivas, Sonhos, e Luxos das nossas freiras conventuais, um texto guloso de Miguel Esteves Cardoso.
 

sábado, 25 de dezembro de 2010

Dia de Natal

Dia de presentes no sapatinho....


Solilóquios (14)

Passou na noite de Natal na RTP1 o espectáculo Carlos do Carmo & Count Basie Orchestra. A bem dizer não havida necessidade, a bota mal batia com a perdigota. Só mesmo o cabotinismo que caracteriza o grande fadista,  poderia ser responsável por tamanho equívoco, digo eu...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pois, é Natal

No talho de uma grande superfície de Oeiras, o sensor da máquina de senhas para o atendimento não faz justiça ao nome. Chega uma mulher, pressiona e nada, volta a pressionar, nada. Tento ajudar,  digo-lhe, tem de carregar com mais força. A mulher olha-me com maus modos, carrega com força, retira a ambicionada senha, vira-me as costas e num gesto desabrido diz para o homem – olha, tem de se carregar com mais força!
Os tempos não estão para grandes salamaleques...

Christmas Songs (2)


Com um beijinho à Malou que me enviou este belíssimo postal de natal.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A macaca sou eu!



Com a devida vénia ao Eduardo Pitta, transcrevo integralmente o post. 

O BPN NÃO EXISTE

Parece que são precisos mais 500 milhões de euros para aguentar o BPN. Mas aguentar o quê? Não seria mais sensato utilizar esses 500 milhões para custear o despedimento dos 1700 trabalhadores do banco? Nacionalizado em Novembro de 2008, o BPN continua a funcionar com capitais negativos (activos tóxicos) no valor de 1,9 mil milhões de euros. Perdeu mais de 60% dos clientes. E os administradores que a Caixa Geral de Depósitos lá pôs (Francisco Bandeira e outros) parece que andam a brincar com o dinheiro dos contribuintes. Há pelo menos vinte quadros, entre ex-administradores e directores do BPN, «que recebem o salário mas não estão a trabalhar desde meados de 2008.» (v. Expresso, 18-12-2010) Terá sido para isso que a CGD lá meteu 4,8 mil milhões de euros?

Mesmo ao desbarato, ou seja, por 180 milhões de euros, ninguém quis comprar o BPN. O Montepio, o BIC e o Barclays franziram o nariz ao caderno de encargos. Talvez por um euro. E mesmo assim...

Ontem, João Semedo voltou a lembrar a peculiar governança do BPN de Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Miguel Cadilhe e outros próceres do cavaquismo. Segundo o deputado do BE, Cavaco Silva e a filha (e, como eles, outros clientes especiais) obtiveram ganhos de 140% nas aplicações feitas. Sobre o assunto, o Presidente da República emitiu este comunicado a 23 de Novembro de 2008.

O que é revelador é que nenhum Cerejo, nenhuma Cabrita, nenhuma Manelona, nenhum Crespo, nenhum justiceiro da bloga, nenhum magistrado de Aveiro, nenhum super-juiz, nenhum colunista das Brigadas Anti-Sócrates (e são 30, os encartados, metade juristas), nenhum Medina, nenhum Duque, nenhum historiador, nenhum jovem turco da República morta, nenhum candidato presidencial, nenhum assessor doublé de repórter na imprensa marron, nenhum representante da Fatah nos media radical-chic, nenhuma das criaturas que formata a opinião... se interesse pelo backstage do banco da Loja P2, perdão, do banco da Sociedade Lusa de Negócios. Decididamente, a fraude do século não comove ninguém.

Back to the basics

Marcello Mastroianni e Anita Ekberg em "La dolce vita"

O Amor é o Amor

O amor é o amor — e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos — somos um? somos dois?
espírito e calor!

O amor é o amor — e depois?

Alexandre O'Neill, in 'Abandono Vigiado'

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O regresso dos cóbois




«A maneira de lidar com isto nos EUA é muito simples. Nós temos Forças Especiais. Um homem morto não pode revelar fugas de informação. Este homem é um traidor e quebrou todas as leis dos EUA. Eu não sou a favor da pena de morte - por isso a única forma de o fazer é matar ilegalmente o filho da mãe»

O homem, segundo confessa nem sequer é favor da pena de morte, um liberal portanto...

Da falta de pudor

Tenho andado para aqui a remoer, a ver se evitava e me esquecia disto. Mas não é fácil. O homem insiste na senda dos pobrezinhos. E nós lá vamos cantando e rindo, aguenta-lo mais cinco anos como Presidente da República. Porca miséria.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Ai o amor...



Duas filas à minha frente o jovem casal  não parava quieto. Beijavam-se profusamente, abraçavam-se, cochichavam, ela olhava-o embevecida sorria e fazia beicinho, ele envolvia-a em grandes abraços, ela encostava a cabeça  no ombro dele, desencostava-se, enroscava-se, voltava a olhá-lo,  sorria parvamente o sorriso das meninas que os querem convencer que eles são deuses...
Tudo isto me divertiria e seguiria a minha vida não fosse dar-se o caso de se passar durante o concerto de Jean-Guihen Queyras , este sábado na Gulbenkian. 
Prevendo o que se iria passar, um casal que estava à minha frente e atrás dos pombinhos, levantou-se e mudou de lugar. Como resultado fiquei com eles na minha linha de visão, neste idilio amoroso. Pensei, deixá-los com certeza que durante o concerto vão sossegar. Qual quê, foram as duas horinhas completas naqueles preparos. Não sei se havia necessidade....

Bach, esse monumento...



Fui à Gulbenkian ouvir o concerto de Jean-Guihen Queyras. Não o conhecia, é um nome a reter. Tocou as Suites para violoncelo solo, BWV 1007-1012 de Johann Sebastian Bach.  Duas horas de puro prazer.

sábado, 18 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Tragam a camisa de forças já!


...os deputados do PS acusados de serem “sopeiras de Lisboa, ao serviço do colonialismo”, com “mentalidade de escravos, descendentes dos marroquinos e dos ingleses aliados”, “um problema cavalar” e “um tratado de psiquiatria”. “Não é fácil aturar esta gente mal-educada e maluca”,...


Não sou de preces. Mas vou colocar umas velas à Senhora de Fátima e rezar para que seja desta que nos vemos livres disto. Os madeirenses que o aturem.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Hoje sinto-me camela


"A proposta inicial do Governo aponta para, no ensino particular, o custo por turma financiada pelo Estado desca para 80 mil euros. A Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo (AEEP) já se mostrou disponível a aceitar que o custo por aluno, no sector, diminua dos 4400 actuais para 3750, que, segundo o Ministério da Educação, é o valor por estudante no ensino público."

O quê que eu não percebi? andam a brincar comigo...


Ludwig van Beethoven



O primeiro disco de 45 rotações de compositores clássicos que tive,  foi-me oferecido por uma professora alemã de patinagem artistica.  Chopin. Só muito mais tarde ouvi Beethoven.

Bonn, 16 Dezembro de 177O,Viena, 26 Março 1827

Leituras

 Joan Miro, Bleu1

"Note-se que a principal diferença entre homens
e eventuais deuses é evidente
e relaciona-se, em primeiro lugar, com o sítio
que cada um ocupa.
Assim, os homens poluem de baixo para cima,
exactamente como as fábricas,
enquanto os deuses poluem de cima para baixo,
como uma vizinha desajeitada ou porca que do 5º andar
atira água suja sobre o passeio.
Depois há ainda outras qualidades de uns e de outros,
mas que, no fundo, são pormenores."

Gonçalo M. Tavares, in Uma Viagem à Índia, Canto II, 10

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A velha Russia




Quem sabe nunca esquece. Por aquelas bandas a tradição ainda é o que era.

Solilóquios (13)

Entramos no frenesim dos jantares de Natal. Esta noite foi o da empresa. Discursos de treta, falas mansas, sorrisos de circunstância.  Estou a chorar de barriga cheia. Devia estar calada que a vida está pela hora da morte para milhares de portugueses sem trabalho.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sexo de surpresa



Ora, eu também prefiro os homens de países em grande reboliço,  sobretudo que não sejam louros. O hedonismo da sociedade ocidental deu-lhes cabo do sex-appeal....

Eis-me

Kasimir Malevich, White on White, 1918 , MoMa


Eis-me 
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
e eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia de Mello Breyner Andresen, livro sexto

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Solilóquios (12)

Ouvir o homem  da lavoura com aquele seu ar saltitão, falar em simplex dos despedimentos, é o toque de humor que faltava nestes tempos sombrios. Haja paciência!!!

China


Toca a estudar mandarim.

Une révolte? Non, Sire c'est une révolution


 
"O caso Wikileaks é revelador da derrocada moral do velho poder que em toda a parte continua instalado na política, na economia e, também, há que dizê-lo, no jornalismo. A sanha, de contornos fascizantes, que emergiu nos últimos dias neste nosso chamado mundo ocidental, o tal civilizado e democrático, contra um jornalista cujo único crime foi ter divulgado alguns documentos de evidente interesse público, só tem paralelo nos regimes tiranos e totalitários. A tão propalada liberdade de expressão só serve para criticar os outros. Quando atinge o velho mundo dito avançado então a máscara cai e a face tão feia e bárbara como a dos outros é revelada. "

Começa assim o artigo de Leonel Moura, intitulado "A Revolução". Imprescindível.  

Via Der Terrorist.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Casinises....



Fujam! Vêm aí os comunistas, intimidar as criancinhas e matar os velhos com injecções atrás da orelha.

Solilóquios (11)

Diz o Expresso que os portugueses estão desejosos que o FMI venha para Portugal. Mas mais estranho ainda são as profundas razões dos mesmos portugueses, esse povo que não se governa nem se deixa governar, de considerar Dulce Pássaro, que eu nunca ouvi dizer duas para a caixa, mas que certamente a culpa será da minha proverbial desatenção, não remodelável, contra os expressivos 48,7% de opiniões negativas que os valorosos lusos atribuem à ministra Ana Jorge. 
Ah valentes! Quando começarem a pagar os custos da saúde com língua de palmo vão lembrar-se desta sondagem..., ou talvez não, não aprendem nunca.

Porque hoje é domigo



Entretanto deixo aqui um repto às almas mais sensíveis para que desamuem. Nesta hora os amuos são um luxo imperdoável a todos aqueles que não querem passar pela vergonha de ver Cavaco plebiscitado.

Bom domingo para todos.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Manoel de Oliveira


Manoel de Oliveira faz hoje 102 abençoados anos. Parabéns e muita saúde é a única coisa que me ocorre desejar a este homem portentoso, com uma energia inesgotável, que ficará certamente na história do cinema mundial.

Porque hoje é sábado



Hoje ficamos na companhia de Oscar Peterson e ficamos muito bem, digo eu.
E não, não me apetece nada comentar as vergonhosas fitas que o homem anda a fazer aí pelos casinos...
Bom fim de semana para todos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Moçambique meu amor


Chamem-me o que quiserem,  eu disto não estava à espera. É descoroçoante.

A minha árvore

Está feita a árvore. Mais uns dias e come-se o bacalhau, o peru, as passas, as filhoses, as farófias e o que mais houver. A seguir entra-se em regime, que nos espera um ano horribilis . No fim, este será só mais um ano que  passou.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Dia da Imaculada Conceição


Confesso humildemente a minha ignorância. Até à data desconhecia completamente, ou  se alguma vez "aprendi" nas desatentas aulas de catequese,  varreu-se-me da memória o significado da data da Imaculada Conceição que hoje se celebra. É claro que conheço o dogma da concepção sem pecado pela Virgem Maria. Mas que ela própria tenha sido concebida sem pecado, é demasiado dogma para a minha pobre agnóstica cabeça, os crentes que me perdoem.
Recordo-me sim que se celebrava nesta data o dia da mãe. É uma pena que o tenham mudado, ainda para mais para uma data sem dia certo e sem qualquer significado.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Contra factos....

A bela Natalia Vodianova, embaixadora russa para o mundial 2018, um argumento incontornável.

Concurso Ovelhas de Presépio


A Barbearia do senhor Luis lançou o concurso Natal 2010 Ovelhas de Presépio. 
Estreante nestas andanças,  o Cirandando vestiu-se a rigor para concorrer a esta prova rija e exigente sem a qual o Natal não é Natal na bloga nacional. E a prova é que nos aprimoramos na escolha dos ingredientes, cores e sabores, como se comprova por este exemplar único e feito à medida para ser elevado aos mais altos patamares da ovelhice nacional.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Dores de cabeça




Leituras

 Vieira da Silva, L'Issue Lumineuse, 1983-86


"Longos dias têm cem anos". Assim me diziam quando se tratava de protelar um assunto, de o fazer amadurecer na lânguida separação inadiável. E os longos dias passavam, carregado de justo sentimento pelas coisas que devíamos fazer de maneira lesta e durável. Às vezes, não se faziam nunca. Outros planos, mudanças, resistências, vazios súbitos do coração, que é quem nos comanda o trabalho e a fantasia. "Longos dias têm cem anos". Era uma admoestação e uma ironia para o preguiçoso inveterado que num século acha tempo adequado para os seus projectos e a combinação laboriosa que os acabe.

Agustina Bessa Luís, in Longos Dias Têm Cem Anos  Presença de Vieira da Silva

sábado, 4 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O dia da humilhação



Não me gabo do meu português, nem escrito nem falado, e tenho pena que ele seja tão medíocre. Sou do tempo em que se faziam cópias e ditados na instrução primária. Nesses velhos tempos em que as teorias pedagógicas da modernidade ainda não faziam escola no nosso ensino, eram comuns os castigos corporais, vulgo reguadas. Por cada erro no ditado éramos chamados à vez à professora e já sabíamos, estendíamos a mão palma para cima, e aguentava-se à espera das reguadas fatais. Traz, traz!

Um dia, penso que terá sido entre a segunda e a terceira classe, fiz um ditado de tal maneira mau que tinha para cima de uma dúzia de erros. Olhei alarmada para o resultado, vexada e derrotada, enquanto aguardava que a senhora professora me chamasse para o castigo da praxe. Quando chegou a minha vez ela olhou para mim e disse: - com uma prova vergonhosa como esse ditado nem reguadas mereces -. E para minha miséria, não me bateu.

Sabe-se lá que traumas terei à conta disso, mas é verdade que sinto sempre alguma insegurança nestes terrenos da escrita, por isso longe de mim apontar o dedo seja a quem for. Mas arregalam-se-me os olhos cada vez que vejo escrito, cada vez com mais frequência, comer-mos, lavar-mos…(and so on), por aí adiante .
Ai tanta reguada a fazer falta por aí….

À espreita do Inverno...

A Neve

A Neve pôs uma toalha calada sobre tudo.
Não se sente senão o que se passa dentro de casa.
Embrulho-me num cobertor e não penso sequer em pensar.
Sinto um gozo animal e vagamente penso,
E adormeço sem menos utilidade que todas as ações do mundo.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

"Frankenstein is in the room"


 "A seita reduziu a política a uma impotência colectiva. A seita é inimputável. A seita tem no topo génios da matemática e das melhores universidades e business schools, apoiados numa industria de lobbying que faz com que existam cinco lobbyist pagos para cada membro do Congressos americano. A seita sabe que ninguém sabe de que é que eles falam, o que lhes permite continuar a fazer aquilo que fazem sem regra nem escrutínio. E com bonificações totalmente desproporcionadas. A seita sabe que especular, apostar contra a perda e a economia, pode fazer enriquecer. A seita não quer saber das fábricas fechadas, dos desempregados, dos contribuintes, dos sem-abrigo. Para melhor se defender, a seita nomeou os seus salvadores e sacerdotes e um homem inteligente como Obama nomeou para resgatar a economia americana alguns dos responsáveis pela falência e a dívida americanas. No mundo financeiro há muitos críticos da seita. Alguns, como Nouriel Roubini, previram a catástrofe"

Clara Ferreira Alves,  sobre o filme "A verdade da Crise" "Inside Job", Revista Única

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Exercício Espíritual

"Naniora" 1960

É Preciso dizer Rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora

Mário Césariny
(9 Agosto 1923 - 26 Novembro 2006)

Inside job



Não percam o filme. E preparem-se para sair de lá com cara de otário. Eu até dormi mal.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Misérias


Agora são as idosas com mais de 60 anos. Mais uma face oculta das nossas misérias.

Português técnico



Já não suporto ouvir falar de alavancagem,  desalavancagem, agências de rating, resgate, mercados, dívida soberana, e outros quejandos que agora não me ocorrem.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pois...o balanço

 

A disparidade de números, não é novidade.

Vivo e trabalho em Oeiras. Não sendo funcionária pública nem trabalhando no sector empresarial do Estado, o dia decorreu com toda a normalidade. Passei pelo centro comercial. Tudo funcionava comme d'habitude, o hipermercado abarrotava com os funcionários públicos que fizeram greve, e as lojas conheciam a animação  da época natalícia. Dei uma volta pela vila, Tagus Park e Lagoas Park. A vida corria na sua mansidão habitual.

Admitir esta  realidade sombria é doloroso. As duas centrais sindicais não vão além da tradicional mobilização dos  funcionários públicos, em particular os professores que aderiram em massa, transportes e serviços de saúde. O difícil seria não serem mobilizados, numa altura em que sofrem um ataque brutal às suas condições de vida. Posto isto pergunta-se, e o resto do país?
Estamos mal.

Data


Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo que mata quem o denuncia
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rastro
Tempo de ameaça

Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto

Hoje

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Amanhã





Martha Telles

 
Le Cadeau, Martha Telles, 1980, Col. Centro de Arte Moderna da F.C. Gulbenkian

"A filha de Martha nasceu aí,[Santa Marta de Penaguião] e ela tinha dezasseis anos. Os partos eram caseiros nesse tempo, e um médico bisonho e leal segurava a mão da mãe em perspectiva, dando-lhe alento sem deixar que ela abusasse dos mimos; porque o parto queria-se austero e não caprichoso."

"Nada é mais humilhante do que ter de pagar demais por falta de suficiente."

Agustina Bessa Luís, in Martha Telles - O castelo onde irás e não voltarás

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sem título


"O meu pai tinha sido ferido e torturado e pediu-me para fazer as malas antes de partirmos. como se faz a mala de um homem quando se é uma rapariguinha de 15 anos? O que é que se põe lá dentro? (Pausa) Sabe o que levei na minha mala? O meu tesouro. A camisa de noite de núpcias que a minha mãe tinha comprado para o meu casamento e de que eu não me queria separar. Parti para Auschwitz com uma camisa de núpcias, magnifica, em cetim branco."

Todos os dias tinha um pânico tão grande de ir para as câmaras de gás! E todos os dias a chaminés ardiam. Quando chegámos, perguntávamos às mulheres que lá estavam há mais tempo: "Onde estão as outras?" Elas apontavam para as chamas e diziam "Partiram ao comando do céu" Demorei algum tempo a perceber".

"Fui recebida no cais por um tio, também ele tinha estado em Birkenau, e a primeira coisa que disse foi: "Não lhes contes nada. Eles não percebem nada do que se passou".

"Nunca quis ter filhos. Durante anos não suportava bebés. Vi demasiadas crianças morrer".

Excertos da entrevista de Marceline Loridan-Ivens, sobrevivente de Auschwitz, cineasta, à Revista Única

domingo, 21 de novembro de 2010

Luz verde à "camisinha"



A posição do Papa não é inovadora, mas é clarificadora, defende Feytor Pinto.

Seja! percebe-se mal é que  tenham permitido tanta confusão e dor entre os crentes e não os tenham esclarecido mais cedo.

Enfim, mais vale tarde que nunca.