segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Em busca da esquerda perdida

"Temos um "gozo apolítico de um certo bem-estar" [Tronti 2009,59].
Daí derivou, em política in primis, a menorização do trabalho e do valor do trabalho.
Mas se a esquerda renuncia à centralidade do trabalho, que sentido tem a esquerda?

"Se é verdade que já não existe a centralidade política da classe operária, no seu lugar existe uma centralidade política do trabalho. Esta foi integrada, marginalizada e depois negada pelos últimos trinta anos do ciclo capitalista, sob a bandeira da globalização neoliberal. A crise actual deste ciclo volta a propor o tema. Mas atenção, o reaparecimento do trabalho na cena política não ocorrerá espontaneamente. Pelo contrário, podem ser introduzidos agravamentos nas suas condições sociais: o impacto da crise, com as suas inevitáveis reestruturações produtivas, atinge os trabalhadores, sobretudo nas faixas mais débeis e menos protegidas, e a saída da crise, com os seus igualmente inevitáveis surtos inflacionistas, punirá uma segunda vez os trabalhadores, também nos sectores mais fortes e mais seguros. Hoje, o trabalho já não tem um ponto central de referência, como podiam ser, no capitalismo industrial, os operários da grande fábrica pré e pós-fordiana, mas, em compensação, adquiriu uma difusão horizontal que faz dele, não um bloco, mas um campo, fragmentado, diversificado, disperso, todavia presente e influente de modo decisivo dentro de todas as dobras da sociedade [...]. O trabalho deixa de ter um centro, mas é ele próprio o centro da sociedade e da política. Para que este dado, de facto não reconhecido, se eleve a consciência individual e colectiva, é necessária a esquerda. Todas as outras contradições do sistema giram em torno deste centro. Só assim a esquerda de hoje se torna reconhecível, se torna identificável, adquire um sentido, assume um valor, obtém uma função.[ibidem, 180-181].

Franco Cazzola, in O que Resta da Esquerda, Mitos e Realidades das Esquerdas no Governo, Cavalo de Ferro Editores, 2011, pag 133-134.

2 comentários:

  1. "Se é verdade que já não existe a centralidade política da classe operária..."/"...Hoje, o trabalho já não tem um ponto central de referência, como podiam ser, no capitalismo industrial, os operários da grande fábrica pré e pós-fordiana, mas, em compensação, adquiriu uma difusão horizontal que faz dele, não um bloco, mas um campo,..."/"O trabalho deixa de ter um centro, mas é ele próprio o centro da sociedade e da política..."

    A "clareza" das transcrições faz adivinhar uma leitura "necessária" e "proveitosa".

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  2. Por vezes penso é se nesta Europa ainda existe esquerda, Ariel, mas aguçou-me o apetite para a leitura...

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