quarta-feira, 2 de maio de 2012

Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado...

 


 "Os donos do Pingo Doce quiseram esfregar-nos na cara o nosso egoísmo, a nossa venalidade, a tremenda distância que nos separa dos outros, desde que de permeio esteja o nosso umbigo. Quiseram fazer-nos provar a gordura cobarde que temos em vez de músculo; explicar-nos, muito devagar, como se fossemos imbecis, que nada nos custa pisar as vidas dos vizinhos desde que seja para alcançar couratos a metade do preço. E conseguiram. Anunciaram primeiro que iam obrigar os seus trabalhadores a laborar no feriado do 1º de Maio. Quando alguma polémica eclodiu, sujeitaram a referendo nacional a solidariedade da manada tuga: "E se vos déssemos um desconto jeitoso, ainda ficariam do lado dos oprimidos, ou correriam por cima deles para agarrar vinho em saldos?" O resultado viu-se ontem pelas nossas ruas: milhares a encher bagageiras com os despojos dos direitos dos outros.

Nas declarações de rapina, o gáudio cheirava-se à légua: "Podemos registar o entusiasmo e a euforia dos nossos clientes, que precisam de campanhas como esta." Como precisamos, foi só assobiar para nos pormos de cócoras, orifícios lubrificados pela nossa própria cupidez.

Pouco depois, quase todas as grandes superfícies comerciais decretavam, à força de intimidação, a morte do 1º de Maio. Mais um capítulo na história da infâmia em que vamos dando razão ao ditador que nos baptizou como "uma nação de cobardes" - acrescentámos ontem a palavra que faltava: "Glutões."  " 

Luís Rainha, "Por um prato de lentilhas, mas com 50% de desconto"  

3 comentários:

  1. Cara senhora, o país sempre foi bonito. Parece é que também foi sempre mal frequentado, que isto de ser tuga é o diabo...
    A tugaria vai pagando os seus pecados, mas não tem nem emenda, nem remédio!!!!

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  2. Foram os pintos que escolheram a raposa!
    Beijinho

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  3. Eu até me abstenho de revelar ( estive para escrever um post , mas desisti) a conversa que hoje ouvi a uma jovenzinha preta, caixa do Pingo Doce, no Metro, Ariel.
    Estava babadíssima com o patrão e dizia que as pessoas que criticavam o que ontem se passou são todas comunistas.
    Não há volta a dar-lhe...

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