quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Citações

"É preciso um plano para salvar a Europa

O novo mantra entre os líderes europeus é que vão salvar o euro porque têm de salvar a União Europeia (UE). Parece, contudo, que se esqueceram de um pormenor fundamental. A razão pela qual a moeda única está em tão maus lençóis prende-se com a incapacidade dos governos europeus em persuadir os seus eleitorados de que vale a pena salvar a União Europeia.

Desisti de contabilizar os comentários eruditos que tenho ouvido sobre o futuro da união monetária - ou sobre o fim da mesma. Uns dizem que a crise pode ser resolvida de uma penada só emitindo 'eurobonds'. Outros advogam que as leis de ferro da economia exigem a saída da Grécia. Chama-se a isto incumprimento controlado. Tenho dúvidas de que esta solução suscite o mesmo entusiasmo junto de banqueiros franceses e alemães. Os meus amigos em Bruxelas esperam que daqui resultem avanços para uma união política.

Porém, os comentários mais assombrosos são os que começam por dizer que a zona euro não vai sobreviver e terminam repudiando a sua desintegração devido aos custos inerentes. O ideal é que os leitores decidam por si. Pelo que me toca, pasmo ante as certezas dos que oferecem previsões e receitas para a cura. Se alguma coisa aprendemos na última década foi a desconfiar das ideias simplistas.

Diria que a chanceler alemã, Angela Merkel, ainda não sabe se ficará para a História como a figura que condenou ou salvou o euro. Em qualquer um dos casos, o panorama económico é extremamente sombrio. Acima de tudo, porém, trata-se de uma crise política e resume-se à colisão entre a ideia de que os governos da zona euro estão nisto juntos e a tentação de pensarem que estão melhor por sua conta e risco.

Por muito que os números pareçam assustadores, a dívida dos países periféricos representa apenas uma pequena parcela do produto da zona euro. O renascimento dos nacionalismo? é, no fundo, o verdadeiro obstáculo à resolução da crise. O seu poder de sedução é enorme. Os alemães, com os bolsos cheios de marcos, poderiam voltar a ser alemães, poupando e investindo os benefícios da prudência e do trabalho árduo. E os gregos poderiam libertar-se das grilhetas da austeridade e ir para a praia repudiando as suas dívidas.

Obviamente que não seria assim. Por um lado, a Alemanha não pode prosperar numa Europa falida. Por outro, o incumprimento é uma solução meramente temporária. Os países devedores não podem adiar indefinidamente as escolhas difíceis. É aí que reside a sedução superficial do nacionalismo: apaga a irritante realidade da interdependência e faz de conta que tudo vai correr bem se os estrangeiros forem mantidos à distância.

O Ocidente está num período de declínio relativo, mas inevitável, ao passo que a Europa dá a ideia de estar em queda livre. Em Pequim, Nova Deli e Ankara fala-se na irrelevância da Europa. Agindo em conjunto, os governos da UE poderão reclamar um papel (significativo) na definição do jogo global. Individualmente, a sua influência é praticamente nula. Como alguém disse, até a Alemanha é demasiado pequena para o mundo.

Cooperação, integração, ou o que lhe queiram chamar, não retira responsabilidade aos governos. Países devedores e credores têm de concordar que vale a pena salvar a UE. Para sustentar a união monetária é preciso que os líderes da zona euro que hoje estão em lados distintos da barricada se unam e defendam o euro. Para isso, porém, têm primeiro de defender a Europa."

Tradução de Ana Pina

Philip Stephens, Diário Económico 

Colaborador do "Financial Times"  

2 comentários:

  1. Uma Europa que não vê crescer, senão os seu níveis de pobreza e as desigualdades, não sei se vai reunir condições para outra coisa que não seja entrar em ebulição. O texto é bom, mas passa ao lado do essêncial...

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  2. Nos EUA a esmagadora maioria da população defende os EUA acima do seu próprio Estado. Na Europa cada um trata de si e a Europa que se lixe. Nos EUA houve uma guerra civil a sério. Na Europa há uma guerra civil a brincar. Se houvesse um referendo nos EUA talvez houvesse 100% a dizer que querem que o seu país exista. Se houvesse um referendo na Europa a maioria diria que é contra a Europa.

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