domingo, 18 de novembro de 2012

Na ocidental praia lusitana...



"Angela Merkel veio a Lisboa para poder dizer em Berlim que esteve cá. E para que os alemães tomem em consideração, nas eleições do próximo ano, que foi firme, como a maioria deles espera, com os relapsos portugueses: austeridade é para amargar até ao fim, sem renegociação alguma do memorando da troika. Nisto se resume a visita da chanceler à luz dos discursos produzidos e dos resultados conhecidos. A menos que tenham sido diferentes as conversas privadas, o próprio Passos Coelho dispensaria bem este apoio embaraçoso. (...) No dia seguinte, a vida correu como antes: os juros a subirem, assim como o risco de bancarrota, o desemprego a crescer e as previsões do Banco de Portugal anunciando um buraco negro para 2013."

Fernando Madrinha, no Expresso

"Os nossos melhores empresários e banqueiros prometeram que tudo ia correr bem. Tudo está bem quando acaba bem e não se ia agora dizer a verdade à chanceler, que nos veio visitar com as jóias postas, como a rainha Vitória visitava os pobres. (...) Nada de dizer à chanceler que o país está a empobrecer a um ritmo superior ao grego e que não haverá probabilidade de levantar a economia enquanto a austeridade a massacrar. (...) Um país acaba por perder a inteligência colectiva com espectáculos destes. Quando a elite se comporta como a criadagem de antigamente (aquela gente "que sabia o seu lugar", na gíria do tempo) e a criadagem, ou seja, o povo, se comporta com mais dignidade do que a elite, estamos esclarecidos. (...) Nunca ouvi Merkel ralhar com os irlandeses, os italianos ou os espanhóis, em público. Aquele discurso não seria tolerado em Atenas ou Madrid. Aqui é aplaudido. O nosso desejo de agradar, de servir, perde-nos. E faz-nos perder o respeito por nós próprios".

Clara Ferreira Alves, "O país da Caldas", Revista do Expresso

3 comentários:

  1. «O nosso desejo de agradar, de servir, perde-nos. E faz-nos perder o respeito por nós próprios.»

    Tal e qual!

    ResponderEliminar
  2. Há uma mistura pouco conseguida que quebra o bem achado das abordagens: não é o desejo de servir que aqui é topado, nem a Criadagem na sua dignidade ínsita. É só a vontade de agradar, sim, mas a dos carreiristas medíocres, sempre a tentarem evidenciar-se, passando por cima de quem quer que seja e tratando-o mal, na ambiçãozinha louca de levarem um louvor do chefe.

    Beijinho, Querida Ariel

    ResponderEliminar
  3. Minha cara senhora, salvou-se o belo dia de sol....

    ResponderEliminar