"As grandes cartas só puderam ser elaboradas com a ajuda do poder. As dedicatórias inscritas nas suas cártulas confirmam-no: agradecem aos que patrocinaram os seus autores, exaltam os que os remuneraram. A cartografia foi um segredo de Estado, desde os Fenícios e os antigos Gregos até Bizâncio e aos tempos modernos. Até à missão de Chyrsoloras, as cartas de Ptolomeu encontravam-se sob fiscalização oficial do Império do Oriente: Pouco se sabia das cartas espanholas e portuguesas (e citamo-las de modo excessivamente breve neste ensaio). A política das grandes potencias marítimas exigia que assim fosse até que o basco Juan de la Cosa, companheiro de Cristóvão Colombo, executou a sua carta do Novo Mundo numa pele de burro. Também esta carta foi durante muito tempo ocultada. Imagine-se a grande assembleia internacional de geógrafos que o príncipe português Henrique, cognominado o Navegador, reuniu em Sagres, perto do cabo de São Vicente, na última ponta da Europa, no limiar das grandes descobertas: compreendera que, sem cartas, não existe salvação para um país apanhado nos confins do continente entre um interior ingrato e um oceano impiedoso. Os cartógrafos salvaram os Lusitanos e bem assim os seus marinheiros. Portugal institui um serviço encarregado, entre outras coisas, de controlar as cartas: a Casa da Índia."
Excerto do Breviário Mediterrânico, de Predrag Matvejevitch
Com os tempos fomos perdendo saberes e competências. A tecnologia importada reduz a importância das cartas a nada: qualquer GPS reune todos os destinos europeus (os outros perderam a importancia que já tiveram...)
ResponderEliminarConcordo em absoluto com o Rogério, mas continuo a viajar de carro pela Europa sem GPS... apenas com um mapa da Michelin.
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