segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Túmulos


"Lara Logan é uma respeitada jornalista da CBS. (...) Uma das razões pelas quais Lara Logan teve de provar o dobro ou o triplo tem a ver com a sua beleza. Logan é uma loira de olhos azuis, com traços perfeitos. Podia ter sido miss, ou modelo, ou a loira burra do costume. Resolveu ser jornalista e ficou viciada na adrenalina, sem conseguir escapar aos remoques sobre o seu corpo, diários numa profissão onde o machismo, de militares e jornalistas, é uma medalha de honra. O profissionalismo e os riscos no terreno conseguiram, ao cabo de anos, isentá-la do deboche sexual de piadas e trocadilhos. (...) No dia da queda de Mubarak, Lara Logan estava em Tahir com a equipa. (...) Na confusão da turba (essa turba "civilizada" de que os jornalistas tanto falam), Logan foi separada da equipa e levada para um lugar onde uma multidão, cerca de 200 pessoas, a espancou e violou repetidamente durante horas. Isto é o que dizem as notícias. A agressão foi continuada, demorada e cheias de pormenores de terror. A besta humana devorando a sua vítima. Homens em fúria, esfomeados de sexo, reprimidos por uma religião que transforma as mulheres um túmulos, atacando uma mulher bela e loira, jornalista e americana.
Lara Logan foi resgatada por um grupo de mulheres e por soldados egípcios.
(...)
A pacífica e civilizada revolução egípcia, que os jornalistas tanto gostam de descrever, teve também este momento que a ajuda a definir.
(...)
Esta turba anda à solta. E quando a poeira assentar, se assentar, o Egipto ouvirá falar dela. A violação de Lara Logan é um sinal, um entre muitos."

Clara Ferreira Alves , excertos de A violação de Lara Logan, revista Única.

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