"O ‘caso Freeport’ está em julgamento. A questão é saber se alguém recebeu dinheiro para autorizar a sua construção numa área de reserva natural. Charles Smith e Manuel Pedro são os arguidos. Certo? Errado. É José Sócrates que continua a ser julgado em resultado de um conúbio lunar de alguns jornalistas, alguns polícias e alguns magistrados judiciais. O último dado é a frase de uma testemunha, reafirmando o que tinha dito na fase de instrução: que ouviu um arguido dizer que precisava de 500 mil contos (sic) para Sócrates. Falta um pequeno detalhe: provar que o ex-primeiro-ministro beneficiou dessa quantia. Quando os ingleses do Serious Fraud Office entraram no processo, os indígenas bateram palmas: agora é que se ia descobrir a ligação do dinheiro a Sócrates. Mas os ingleses encerraram o processo sem conseguir determinar quem ficou com o dinheiro. Surgiram as explicações: afinal o Serious Fraud Office não era grande coisa a investigar e era manipulável politicamente. Por sua vez, no despacho final do processo, os dois magistrados do Ministério Público fizeram saber que não tinham tido tempo para colocar 27 questões a Sócrates. Lá ficou a suspeita: essas respostas é que provariam a ligação do ex-primeiro-ministro ao dinheiro.
Em contrapartida, o ‘caso BPN’, que pode vir a custar aos contribuintes a exorbitante soma de €6000 milhões (!), está na paz do Senhor. Oliveira e Costa é o arguido mais conhecido mas o processo não faz manchetes nem avança, apesar dos nomes sonantes envolvidos na falência do banco. Pelos vistos, é muitíssimo mais urgente crucificar Sócrates, mesmo sem provas, do que defender o dinheiro dos contribuintes, com provas evidentes.”
Nicolau Santos, Expresso
Sem comentários:
Enviar um comentário