terça-feira, 20 de março de 2012

O Congresso


"O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público realizou um congresso em Vilamoura. O programa incluía um "programa social para acompanhantes". [...] A dita reunião da corporação teve o patrocínio de bancos e empresas e mesmo, imagine-se media partners. Os bancos que patrocinaram o simpático encontro de magistrados do Ministério Público são o BPI, o Montepio, o BES e, patrocinadora oficial, a Caixa Geral de Depósitos.
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Os bancos, recorde-se, vão ser recapitalizados graças ao contribuinte, que é quem paga os empréstimos e os juros da troika.
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Os portugueses têm de confiar na justiça e na sua administração, e no papel essencial do MP nessa administração. A corrupção é investigada pelo Ministério Público e dois dos bancos que patrocinaram o congresso de Vilamoura são ou foram investigados pelo MP. O BES esteve na origem do caso Portucale, um caso de corrupção por causa da aprovação de um empreendimento turístico na Herdade da Vargem Fresca, no Ribatejo. Um despacho foi assinado pelos então ministros (do governo de Santana Lopes, de saída) Luís Nobre Guedes, Carlos Costa Neves e Telmo Correia. Alguns arguidos, levados a julgamento, tinham ligações ao BES. O caso trouxe à tona mais dois casos de indícios de corrupção que envolvem o BES. Um tem a ver com as SCUT e o outro com um empreendimento turístico. A CGD está a ser investigada por crimes fiscais associados à fusão da Compal com a Sumolis. Vários milhões de euros terão sido subtraídos ao Estado.
E o caso BPN não está satisfatoriamente investigado. O presidente do Sindicato do Ministério Público, João Palma, deu uma entrevista a este jornal na qual insinua uma investigação por fazer a Sócrates, mas não o preocupa a investigação por fazer a Dias Loureiro.
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Participar num congresso pago, entre outros por entidades investigadas, levanta uma suspeita sobre a corporação. [...] Se o sindicato não tinha dinheiro para fazer o seu congresso em Vilamoura nem para pagar as passagens dos jornalistas convidados nem para desenhar um "programa social para acompanhantes", devia ter ficado em Lisboa, numa sala de hotel, mais barata e sem vista de mar. Vivemos em austeridade."

Clara Ferreira Alves,  Os Bancos Amigos do MP, Revista do Expresso

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