segunda-feira, 4 de março de 2013

As manifes



"Quando as pessoas se manifestam, canalizam o descontentamento e, ao fazê-lo, exorcizam o mal-estar que pressentem individualmente e que encontra eco através da comunhão com milhares de outros manifestantes. Para mais, considerando que a onda de protestos recentes - por exemplo o "grandolar" - encontra acolhimento mesmo entre aqueles que não participam activamente, as manifestações, por si só, desempenham um papel relevante: consolidam laços de pertença a uma comunidade, que é por definição política. 
Contudo, há um conjunto de ilusões associadas a estas novas formas de participação.
A primeira das quais é a ilusão criada pelas redes sociais. O Facebook, os blogues e o Twitter potenciam formas de expressão política ambicionadas há séculos - não intermediadas, directas e individualizadas. Mas se estas formas de participação podem ser muitas expressivas, não são, no entanto, capazes de funcionar como válvulas de escape para o descontentamento. Pelo contrário, as redes sociais acabam por funcionar como repositório de tensões e ressentimentos, em lugar de promoveram a sua superação.
[...]
Não nego a importância do protesto baseado na recusa do que existe, mas, sem alguém que o represente organicamente, a sua eficácia é reduzida. Ora, o problema é precisamente esse: as formas tradicionais de representação de interesses já não são vistas como representativas, mas ainda não foram encontradas novas formas capazes de organizar a mudança. O que só consolida a natureza radicalmente nova da crise que enfrentamos."

Pedro Adão e Silva, O Novo Mundo do Protesto, Expresso

3 comentários:

  1. Concordo inteiramente: a partidocracia par(a)lamentar nunca foi representativa, mas conseguiu enganar quase todas as Pessoas durante algum termpo. A ficção acabou, mas não é preciso inventar o que já está inventado, basta voltar à Monarquia Tradicional.

    Beijinho, Querida Ariel

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  2. A verdade é que a mudança está a acontecer e Itália foi apenas o primeiro exemplo. O mundo mudou mais do que por vezes somos levados a acreditar e, depois desta crise, nada será como dantes. Nem a nível económico, nem político.

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