"Embora os líderes da Europa fujam ao termo, a realidade é que grande parte da União Europeia se encontra em depressão. A queda na produção em Itália desde o início da crise é apenas comparável à da década de 1930. A taxade desemprego entre os jovens na Grécia ultrapassa agora os 60%, e a da Espanha está acima dos 50%. Com a destruição do capital humano, o tecido social da Europa desintegra-se, e o seu futuro é posto em perigo.
Os médicos da economia dizem que o doente deve manter-se neste caminho. Os líderes políticos que sugerem outra solução são catalogados de populistas. A realidade, porém, é que a cura não funciona, e não há esperança que vá funcionar - isto é, sem ser pior do que a doença. De facto levará uma década ou mais para que se recuperem das perdas inerentes ao processo de austeridade.[..]
O diagnóstico simplista dos males da Europa - que os países em crise viviam acima das suas possibilidades - está nitidamente errado, pelo menos em parte. [...]
O que não funcionará, pelo menos para a maioria dos países da zona euro, é a desvalização interna - ou seja, forçar a descida de salários e preços - já que isto aumentaria o fardo da dívida para as famílias, empresas e governos (que são detentores, na sua esmagadora maioria, de dívidas tituladas em euros). E, com ajustes a ocorrer em diferentes sectores a diferentes velocidades. a deflação provocaria importantes distorções na economia. Se a desvalorização interna fosse a solução, o padrão-ouro não teria constituído um problema durante a Grande Depressão. A desvalorização interna, combinada com austeridade e o princípio do mercado único (que facilita a saída de capital e a hemorragia dos sistemas bancários) constitui uma combinação tóxica. [...]
Sim, a Europa precisa de uma reforma estrutural, como insistem os defensores da austeridade. Mas será a reforma estrutural dos acordos institucionais da zona euro, e não as reformas no seio dos países, a que causará o maior impacto. A não ser que a Europa esteja disposta a encetar essas reformas, poderá ter que deixar morrer o euro para se salvar a si própria."
Joseph Stiglitz, Nobel da Economia e Professor na Universidade de Columbia, no Expresso
Querida Ariel, viver acima do que se podia também teve o seu quinhão de culpas. Mas claro que pior foi o erro de avaliação quanto ao que se podia. E este brotou de não se perceber que a Globalização, o tal feitiço que ia dar mercados sem fim aos ricos, era aquele que se virava contra os feiticeiros, porque, entretanto, tornados preguiçosamente comodistas e mimados, sem capacidade de adaptação reactiva.
ResponderEliminarBeijinho
Há três anos que venho escrevendo sobre isso, mas foi com a globalização, há duas décadas, que o desastre começou a anunciar-se. A globalização até seria boa, mas não como foi desenvolvida: a pensar-se apenas nos mercados e esquecendo as pessoas
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