segunda-feira, 9 de agosto de 2010

À segunda, segundo Saramago (1)


Foto de Sebastião Salgado

..."Aliás, seria inútil porque o elefante já se aproximava. Subhro fê-lo deter-se diante do homem que se encontrava no extremo direito da primeira fila e disse em voz clara, A mão estendida, a palma para cima. O homem fez o que lhe ordenaram, a mão ali estava, firme na aparência. Então o elefante pousou sobre a mão aberta a extremidade da tromba e o homem respondeu ao gesto instintivamente, apertando-a como se fosse a mão de uma pessoa, ao mesmo tempo que tentava dominar a contracção que se lhe estava a formar na garganta e que poderia, se deixada à solta, terminar e, lágrimas. Tremia dos pés à cabeça, enquanto subhro, lá de cima, o olhava com simpatia.
.....
Em compensação, houve momentos de vivíssima emoção, como foi o caso daquele homem que explodiu num choro convulsivo como se tivesse reencontrado um ser querido de quem havia muitos anos não tinha notícias. A este tratou-o o elefante com particular complacência. Passou-lhe a tromba pelos ombros e pela cabeça em carícias que quase pareciam humanas, tal eram a suavidade e a ternura que delas se desprendiam no menor movimento. Pela primeira vez na história da humanidade, um animal despediu-se, em sentido próprio, de alguns seres humanos"....

(José Saramago - A Viagem do Elefante)


Yo-Yo Ma - Bach- Preludio da suite  nº 1

2 comentários:

  1. Diz-se que quando duas pessoas sentem simpatia, cumplicidade e ideias encontradas sem qualquer explicação racinal, que elas são atraídas por uma certa "química" que as atraí...

    Acabo de descobrir que ela, essa "química", também funciona em espaços virtuais...

    PS: Ontem houve a minha primeira homilia, onde aparece um apostolo chamado ariel, trazendo pela mão uma criança...

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  2. Nada mais natural que após a homilia, o apóstolo se apresse a espalhar a palavra do senhor...!
    :)))

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