domingo, 5 de junho de 2011

Há domingos assim...

A Última Nau

Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.

Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Votará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.

Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.

Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.

Fernando Pessoa, in Mensagem, edição Fernando Cabral Martins, Assírio & Alvim

6 comentários:

  1. De um cinzento que faz equivaler um "nau, nau!" a um "mau, mau!"?

    Beijinho, Querida Ariel

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  2. Meu Querido Paulo, os seus comentários são sempre uma fonte de grande reflexão...

    Beijinho.

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  3. Ariel querida
    "Foi-se a última nau"
    E eu com presentimento tão mau.
    Beijinho

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  4. Ariel

    Esta coisa dos naufrágios não vai bem com um domingo de verão....

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