domingo, 17 de fevereiro de 2013

O desprezo pelos desempregados


"O primeiro-ministro olha o números e não se surpreende, não se alarma, não se indigna, não protesta, não se irrita, não altera o tom de voz, não se lamenta, não acusa, não pede desculpa...Fala, mas não comunica. Nenhum sentimento, nenhuma emoção. Diz que é "normal" o desemprego crescer ainda mais este ano. E que os números do INE estão "razoavelmente em linha" com as previsões do Governo. Dirige-se ao país - isto é aos desempregados e aos que tendo ainda trabalho, receiam o mesmo destino -, como se estivesse perante uma plateia de economistas a fazer uma apresentação de powerpoint. O que mais impressiona no discurso oficial sobre o desemprego já não é a falta de uma palavra sobre a má sorte de quem o sofre, a qual também pode soar a choradinho hipócrita. O que mais me impressiona é a fria naturalidade com que se assume que já não há nada a fazer "pelas gerações perdidas".


Fernando Madrinha, Gerações Perdidas no Expresso

A foto acima acaba de ser vencedora do Word Press Photo na categoria daily life, é do português Daniel Ribeiro, desempregado, que foi despedido há alguns meses do jornal onde trabalhava. Teve de vender todo o material fotográfico que possuía para poder sobreviver. 

4 comentários:

  1. Um anónimo disse:
    «Querem acabar desemprego?
    Aumentem a laboração (dia de trabalho para 12 horas), com 2 turnos de 6 horas, claro que haveria de haver uma diminuição de salário para alguns (pois haveria redução de horas), mas haveria trabalho para todos...»

    -> O fraccionamento do trabalho poderá avançar em situações aonde exista «gente capaz» disponível... tal terá que ser analisado caso a caso...
    -> Dito de outra maneira: analisando caso a caso, há que ver quais são os sectores aonde é possível gerar emprego... todavia, sem nunca descer abaixo do salário mínimo.


    Já houve quem levantasse a questão:
    «Existirão pessoas que se terão endividado em função do salário disponível.»

    -> Ora, e as pessoas que se endividaram... e agora não têm rendimento nenhum?!?


    Já houve quem levantasse a questão:
    «A redução salarial, por si só, nunca foi solução para resolver problemas da economia.»

    -> Ora, o fraccionamento do trabalho não vai resolver problemas da economia... mas vai resolver problemas de pessoas.
    Nota 1: com um desemprego muito elevado... existe um maior risco de implosão social; ficar à espera de um crescimento económico significativo pode ser uma miragem de muito longo prazo... até lá, o fraccionamento do trabalho vai diminuir o risco de implosão social.
    Nota 2: O fraccionamento do trabalho é reversível... isto é: existindo crescimento económico... o fraccionamento do trabalho pode ir acabando...

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  2. A parte que mais me dói é aquela insensibilidade hipócrita e bastante porca.
    Uma pessoa bem formada e com capacidade de visão e de solução já teria posto as coisas na ordem.
    Infelizmente é o que temos e ainda irá continuar afirmando que os erros foram do anterior e não suas.

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  3. Querida Ariel,
    os Desempregados, na sua tragédia, acabaram por se virar para Hitler, na Alemanha, em desespero de causa. Até admira como, na respectiva indigência argumentativa, o Ministro Relvas não se tenha lembrado disso para justificar a insensibilidade total do Governo aos problemas Deles... Só que desconfio de que, quando a depressão acumulada explodir, não será o partido, mas todos os do sistema a serem recambiados para o estatuto que tão levianamente menosprezam. Temo é o que venha a seguir. Mas não A incomodo mais com a solução que proponho, a coisa não está para troças do "Passadismo".

    Beijinho

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