segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

"Voando sobre um ninho de cucos"


Sobre o caso BES e a  Comissão Parlamentar de Inquérito que ouviu na semana passada os ex-donos disto tudo perante uma audiência televisiva embasbacada de milhões de portugueses, escreve Tomás Vasques:

"Como se lembram, dias antes, o senhor Presidente da República, nos confins do mundo, na Coreia do Sul, tranquilizou a família, os amigos e demais interessados. Com ar circunspecto, disse: os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo dado que as folgas de capital são mais que suficientes para cumprir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa. Sublinho: podem confiar, mesmo na situação mais adversa.
Também o senhor primeiro-ministro, na mesma altura, garantiu aos portugueses: Não há nenhuma razão que aponte para que haja uma necessidade de intervenção do Estado num banco que tem capitais próprios sólidos, que apresenta uma margem confortável para fazer face a todas as contigências, mesmo que elas se revelem absolutamente adversas, o que não acontecerá com certeza.

Afinal, o podem confiar e o que não acontecerá aconteceu. Dias depois, facto insólito, Marques Mendes, o porta-voz disto tudo, anunciava que o BES se finara. No dia seguinte, o governador do Banco de Portugal confirmou oficialmente o óbito.

Nesta missa do sétimo dia, mereceu inusito destaque, a semana passada, a audição circense a Ricardo Salgado.

Despudoradamente intrometido, o primeiro-ministo indicou aos seus deputados o caminho para a verdade. Disse: Concentrem-se no Espírito Santo. Ora, este é exactamente o caminho oposto ao que devia ser seguido. O que está em causa é a avaliação do comportamento do poder político e do governador do Banco de Portugal neste processo desde meados de 2013 e, sobretudo, entre as declarações de Cavaco Silva e Passos Coelho e o anúncio da morte.

As razões da morte súbita do BES, no tempo e nas circunstâncias que conhecemos, ficarão eternamente por esclarecer, na medida em que o que está por detrás das cortinas só pode ser esclarecido pelo governo de Angola, pelo primeiro-ministro e ministra das Finanças e por Durão Barroso. O resto não passa de tricas no seio da família Espirito Santo sobre boa e má gestão, as quais não deviam merecer a atenção do Parlamento."


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