sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cristina Josefa

Ferreira Fernandes
"Josefa, 21 anos, a viver com a mãe. Estudante de Engenharia Biomédica, trabalhadora de supermercado em part-time e bombeira voluntária. Acumulava trabalhos e não cargos - e essa pode ser uma primeira explicação para a não conhecermos. Afinal, um jovem daqueles que frequentamos nas revistas de consultório, arranja forma de chamar os holofotes. Se é futebolista, pinta o cabelo de cores impossíveis; se é cantora, mostra o futebolista com quem namora; e se quer ser mesmo importante, é mandatário de juventude. Não entra é na cabeça de uma jovem dispersar-se em ninharias acumuladas: um curso no Porto, caixeirinha em Santa Maria da Feira e bombeira de Verão. Daí não a conhecermos, à Josefa. Chegava-lhe, talvez, que um colega mais experiente dissesse dela: "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas." Enfim, 15 minutos de fama só se ocorresse um azar... Aconteceu: anteontem, Josefa morreu em Monte Mêda, Gondomar, cercada das chamas dos outros que foi apagar de graça. A morte de uma jovem é sempre uma coisa tão enorme para os seus que, evidentemente, nem trato aqui. Interessa-me, na Josefa, relevar o que ela nos disse: que há miúdos de 21 anos que são estudantes e trabalhadores e bombeiros, sem nós sabermos. Como é possível, nos dias comuns e não de tragédia, não ouvirmos falar das Josefas que são o sal da nossa terra? "
Maurice Ravel - Pavane pour une Infante defunte

3 comentários:

  1. Não perco uma crónica de FF. Põe o dedo na ferida como poucos, hoje em dia sabem fazer. Talvez por isso os coelhistas não gostem dele e estejam constantemente a acusá-lo de socrático
    Volto. Devagarinho, mas com saudades.

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  2. Ela era...

    "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas."

    Ela era...
    expressão bera,
    trágica,
    deixou de ser
    um sal
    mas do seu sabor
    fica este sinal
    seguido por muitos jovens
    soldados da paz

    (não perco uma crónica de FF e para o ver sempre com o destaque merecido, leio o DN a partir da contracapa... como se fosse a 1ª página)

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  3. Carlos,
    Bem regressado, esta humilde tabanca sentiu a sua falta. Espero que esteja tudo bem.
    É como diz, FF põe o dedo na ferida na justa medida, nem a mais nem a menos.
    :))

    Rogério,
    Estive para sublinhar essa mesma frase... , é a tal química...
    :)))

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