terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Eis-me

Kasimir Malevich, White on White, 1918 , MoMa


Eis-me 
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
e eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia de Mello Breyner Andresen, livro sexto

2 comentários:

  1. Clap clap clap clap clap!

    O "meu" branco no branco! E a Sophia. Mas que casamento ...

    Muitos beijos

    :))))

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  2. Tive a pretensão de que gostasse, minha querida Maria do Sol...

    Beijinhos

    :)))

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