"Cerca de quatro meses após o chefe do Governo exortar os professores sem colocação a emigrarem e do secretário de Estado da Juventude aconselhar os jovens portugueses desempregados a seguir o mesmo caminho, o secretário de Estado das Comunidades admitiu que o Governo está preocupado com a emigração. "Evidentemente que o Governo está preocupado", disse o governante. E explicou que "vamos perder muitos quadros" qualificados, sem trabalho no respectivo país e atraídos, lá fora, por trabalho certo, segurança no emprego e salários a perder de vista em relação aos que se cometem em Portugal. E esta sucessão de declarações parece confirmar a ideia de que o Governo alberga uns quantos aprendizes de feiticeiros que falam primeiro e medem as consequências depois.
Com 38 anos de idade, a democracia em Portugal tinha obrigação de ter mais qualidade e estabilidade. Mas a verdade é que cada dia é um marco numa marcha atrás acelerada. Há 38 anos, observando a cavalgada de sacrifícios para os quais, afinal, ninguém sabe apontar um destino, uma meta e um calendário, dir-se-ia que "não foi para isto que se fez o 25 de Abril". Com efeito, o rumo mais dramático da política do velhíssimo Estado Novo está em vias de reposição, com os portugueses a verem apenas um caminho para a frente, quando tudo anda para trás no seu País. E o caminho é o da emigração, que até mesmo governantes têm deixado escapar como solução para os problemas de Portugal e dos portugueses. Sendo que o reconhecimento da emigração como destino é a confissão do Fracasso das políticas internas de sucessivos governos.
Pela mão dos seus burocratas, Portugal tornou-se um País que nega o futuro aos próprios filhos. Não será a Pátria, ou a mãe, é simplesmente uma parideira sem alma. "
João Paulo Guerra, Fracasso, Diário Económico