"Ontem, senti uma revolta imensa, quando um aluno chegou à minha beira, a chorar compulsivamente, de tal forma que não conseguia articular uma palavra sequer. Os seus olhos eram os olhos de quem nada deve ter dormido, na noite anterior, e de quem, provavelmente, teria passado o dia a chorar. "O pai dele emigrou!" - diziam os colegas.
Que poderia fazer eu perante tamanho sofrimento de uma criança que se vê obrigada a separar-se de uma parte seu mundo? Que poderia dizer eu a uma criança que está a sofrer, como um adulto, perante a ausência de um dos pilares da sua vida? (Meu Deus, nenhuma criança deveria sofrer assim!). Bem, lá me enchi de coragem e tentei o mais que sei e que pude (lutando contra a minha tristeza e revolta interiores) enumerar as vantagens de ter o pai que luta pela família, um HERÓI que luta por dar uma vida mais feliz a ele e à sua mãe; as vantagens em ter um pai corajoso o suficiente para aguentar tamanha separação da sua família. Em suma, tentei mostrar-lhe o ORGULHO que ele devia ter no pai, para que esse sentimento se sobrepusesse à dor da sua ausência. Disse-lhe para falar para o seu coração, falar baixinho para si mesmo, como se o seu pai estivesse com ele, garantindo-lhe de que ele o ouviria. Falei-lhe ainda do poder da internet, que contribui em muito para atenuar as saudades... No fim da aula, o menino já exibia um lindo sorriso e o seu sorriso foi tudo para mim.
-Paula Allen, professora neste Portugal sob o jugo da austeridade"