segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sem título


"O meu pai tinha sido ferido e torturado e pediu-me para fazer as malas antes de partirmos. como se faz a mala de um homem quando se é uma rapariguinha de 15 anos? O que é que se põe lá dentro? (Pausa) Sabe o que levei na minha mala? O meu tesouro. A camisa de noite de núpcias que a minha mãe tinha comprado para o meu casamento e de que eu não me queria separar. Parti para Auschwitz com uma camisa de núpcias, magnifica, em cetim branco."

Todos os dias tinha um pânico tão grande de ir para as câmaras de gás! E todos os dias a chaminés ardiam. Quando chegámos, perguntávamos às mulheres que lá estavam há mais tempo: "Onde estão as outras?" Elas apontavam para as chamas e diziam "Partiram ao comando do céu" Demorei algum tempo a perceber".

"Fui recebida no cais por um tio, também ele tinha estado em Birkenau, e a primeira coisa que disse foi: "Não lhes contes nada. Eles não percebem nada do que se passou".

"Nunca quis ter filhos. Durante anos não suportava bebés. Vi demasiadas crianças morrer".

Excertos da entrevista de Marceline Loridan-Ivens, sobrevivente de Auschwitz, cineasta, à Revista Única

8 comentários:

  1. Memórias de coisas tão recentes...
    porque as foi buscar?

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  2. A sobrevivência da memória permite-nos esperar que a História não se repita.Esta crise e acontecimentos recentes colocam-nos à beira do abismo.A boçalidade,a estupidez,a maldade são muito resistentes e aproveitam-se do aburguesamento confortável dos que crêem que a superioridade da Democracia e dos princípios Humanistas são suficientes só por si para impedir o regresso da violência racista e sem sentido.EUA,França,Itália,Suécia...são uma amostra.A intolerância espreita!Bravo Ariel, é bom lembrar!

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  3. A barbárie está sempre à espreita, não é?

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  4. Li há dias uma outra entrevista dela na imprensa estarngeira, no mesmo registo impressivo. Não consegui terminar, confesso. Talvez porque esteja ainda demasiado perto de nós.

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  5. É preciso ir buscá-las sempre, Rogério uma e outra vez, sempre, por mais doloroso que seja. A minha formação política foi feita com John Steinbeck e com os relatos sobre o nazismo e os campos de concentração...

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  6. A intolerância espreita mesmo, CidadãoX, está aí ao virar da esquina. é um facto que os valores democráticos não são dados adquiridos, como é bem visível nos exemplos que aqui nos trás.

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  7. Um horror Malou, esta cruel realidade deixa-me sem palavras.

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  8. Demasiadamente perto Carlos, é isso que me aterroriza.

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